O que restou da Política

Posted on

No seu livro de estreia, Diogo Chiuso quer saber “O que restou da Política” depois da confusão atual, causada por extremismos ideológicos que estimulam conflitos e dividem compatriotas entre amigos e inimigos.

Na sua visão, a essência da política é resolver conflitos através de acordos que visam o bem comum, evitando, assim, que os poderes que deveriam ser usados para unir a sociedade, passem a ser motivos para dividi-la. O livro é composto por ensaios que articulam uma diversidade de assuntos e autores tão distintos quanto Michel Foucault, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Max Weber, Karl Mannhein, Bernard Lonergan, George Bernanos, Jean-Paul Sartre e Albert Camus.

Nessa auto-entrevista, Diogo tem uma conversa consigo mesmo, para provar que foi ele mesmo que escreveu o livro (já que tem tanta gente por aí se considerando escritor mas precisa de ghostwriters).

Na apresentação você diz que, como D. Quixote, “passou as noites em claro e os dias em túrbido” para escrever o livro. 

É que quando decidi escrever, fiz uma organização minuciosa do índice, com tópicos e subtópicos, iludido por uma coisa chamada planejamento. Mas comecei a perder o sono quando passei a estudar melhor cada tema e ver que as possibilidades para abordá-los eram infinitas. Depois me deparei com muitos autores que eu não simpatizava, mas com quem fui obrigado a concordar. 

Quais?

Marx, por exemplo. Ainda que a sociedade futura imaginada por ele seja só mais um wishfull thinking, é preciso aceitar que a crítica dele à sociedade burguesa é certeira. A humanidade se tornou um mero fenômeno econômico quando passamos a acreditar que tudo é determinado pela relação de trabalho e riqueza. Isso não é verdade, mas hoje é visto como senso comum. E consequência é a falta de sentido para a vida. Outra realidade que temos de encarar é a ideia de que todas as relações humanas são relações de poder. Isso também não é verdade, mas como já aceitamos a premissa, vivemos como se tudo fosse exatamente como está descrito nos livros de Foucault. 


A humanidade se tornou um mero fenômeno econômico quando passamos a acreditar que tudo é determinado pela relação de trabalho e riqueza. Isso não é verdade, mas hoje é visto como senso comum.


E os autores que você simpatiza?

São muitos. Mas talvez o que mais me surpreendeu foi o Lonergan. É um autor muito complexo, mas quando a gente começa a entender qual é a dele, ocorre uma epifania. Ele parece ter reflexões sobre todos os problemas da humanidade. E a forma como ele vai aprofundando cada vez mais a reflexão é algo que deixa a gente perplexo. Posso dizer que foi um dos teóricos mais importantes para o que eu pretendia escrever nesse livro.

E quais as teses defendidas em O que restou da Política?

Não tenho nenhuma tese para defender. Minha pretensão é apenas levantar algumas reflexões que me parecem relevantes no mundo atual. Claro que tenho lá minhas conclusões, mas isso não importa muito porque não tenho a menor pretensão de estar certo o tempo todo. Todos os capítulos têm seus referenciais teóricos que me permitem colocar em discussão algumas questões que tento responder, mas que também ficam abertas para que o leitor possa chegar às suas conclusões e abrir novas perspectivas. A ideia é estimulá-lo a raciocinar junto comigo e ir ainda mais longe. O que espero, sinceramente, é que seja uma discussão em que o leitor sempre saia ganhando.

Mas, afinal, o que restou da Política?
Boa pergunta. A política moderna se tornou apenas disputa pelo poder. Nós perdemos o espírito comunitário, já não nos guiamos mais na busca pela justiça ou pelo bem comum. Atualmente a política, pervertida, consiste apenas na criação de mitos: o mito do sistema político perfeito que irá abolir as misérias humanas; o mito do líder que trará a justiça aos injustiçados, felicidade aos infelizes e punição aos conjurados. E tudo é regido por duas premissas básicas: a hobbesiana, de que o “homem é o lobo do homem”, e, consequentemente, pela proposição schimitiana de que o que move a política é a relação amigo-inimigo. Essa distinção de amigo-inimigo indica o grau de união ou separação de uma sociedade: quanto mais polarizada, menor é a chance de se pautar as ações pela ideia de justiça ou bem comum – e, obviamente, maior é a chance de serem pautadas por interesses privados. Assim, surgem duas facções rivais: os revolucionários desejosos de poder e os oligarcas da burocracia, que jamais querem deixá-lo. O problema é que quando a proposta é sempre combater o discurso do oponente, a política se torna estéril, porque ao invés de se concentrar na busca de soluções práticas para resolver problemas cotidianos, torna-se uma mera expressão de subjetividades abstratas.

Então, não restou nada…
Olha, como dizia o Corção, se a nossa pobre humanidade é capaz de assassinar, ela também é capaz de salvar a vida do outro com risco da própria; se é capaz de roubar, é também capaz de repartir e doar, e se é capaz de inimizades por causa de um pedaço de pão, é capaz também de amor e de amizade em torno de um pedaço de pão. A verdade é que, para nossa sorte, nem tudo é política.


ONDE COMPRAR:

Pré-venda na Bookando.com.br: R$ 49,90
(use o código Noétika30 para ter 30% de desconto)

0 thoughts on “O que restou da Política”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *