Existem mil motivos para criticar Jordan Peterson. O darwinismo social grosseiro da sua tese das lagostas, por exemplo. Mas a Revista Época foi capaz de criticar somente aqueles motivos que, atualmente, fazem dele um pensador importante.
A reportagem afirma que o público de Peterson é composto por jovens “que se sentem perdidos num mundo cada vez mais feminino”. Tem razão. Também diz que esses meninos perdidos “não entendem os novos códigos sociais”. Tem razão novamente. Depois de dois acertos é compreensível a ousadia do jornalista em sentenciar que os meninos perdidos de Peterson “clamam por orientação e uma voz grave que os valorize”.
Como podemos perceber, o problema da nossa época não é tanto o diagnóstico, mas as disposições diante dos problemas. Somos realmente uma geração perdida. E como não estaríamos perdidos se nos últimos 30 anos os códigos sociais estiveram em constante mudança? De um materialismo radical, passamos para um individualismo mimado até chegarmos no símbolo absoluto da pós-modernidade: o irracionalismo ideológico-extremista. Já não existe qualquer fundamento no qual possamos nos apoiar; ser moderno é estar em constante mudança: valorizamos agora aquilo que renegaremos nos próximos 10 minutos. Haveria, portanto, algo de errado com esses meninos que se sentem perdidos num mundo que perdeu completamente o sentido?
É simplesmente infantil acreditar que a realidade possa ser modificada com palavras e leis. Obrigar alguém a dizer algo para não ser preso não muda o fato de haver necessariamente uma ordem natural. Ordem que justifica a própria ciência, pois não seria possível estabelecer um método para analisar uma natureza que se molda conforme as vontades e conveniências ideológicas da moda.
Mas o irracionalismo pós-moderno pretende abolir a tragédia que é essencialmente humana. No lugar, propõe a felicidade de “novos códigos sociais” que funcionam mais ou menos como os choques elétricos para adestrar lagostas. Mas Peterson saiu da Árvore do Carrasco com seus meninos perdidos. Seria o “intelectual obscuro” pretendido pelos seus críticos se não estivéssemos numa época de total obscurecimento da inteligência. Sempre houve quem lucrasse ensinando obviedades. Mas nunca elas foram tão necessárias.
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