Os brioches de Maria Antonieta

Posted on

Por Diogo Chiuso

Na comédia O grande Cophta, Goethe retrata a decadência da sociedade francesa pré-revolucionária a partir de um caso verídico: o do colar da rainha Maria Antonieta. Uma condessa, uma prostituta e um charlatão reuniram-se para enganar o cardeal Rohan, proscrito na corte francesa, mas que desejava reaver o respeito da rainha. A condessa de La Motte arranja-lhe um encontro privado com Maria Antonieta nos jardins de Versailles, mas na verdade, quem aparece é a prostituta contratada pela condessa. O cardeal cai no engodo e nem percebe a diferença; acaba se comprometendo a ser o intermediário na compra de um colar de diamantes para a rainha. Quando os joalheiros mandam a conta para o palácio, inicia-se o escândalo.

A França passava por uma grave crise econômica e a notícia de que Maria Antonieta esbanjava dinheiro com joias trouxe muita revolta. Nesta mesma época surgiu a famosa frase que ela jamais disse: “se não têm pão, que comam brioches”; foi tirada das Confissões de Rousseau, onde ele diz se lembrar de uma grande princesa que, ao saber que os camponeses não tinham mais pão, teria respondido: que comam brioches!* Mas era tarde. A frase já havia dado a volta ao mundo na boca da rainha, que já sofria com as campanhas difamatórias promovidas por quem desejava derrubar a monarquia. Espalhavam-se panfletos obscenos de Maria Antonieta em situações de depravação sexual. O material eram impresso em Londres, e os escroques distribuíam massivamente por toda Paris.** A difamação de Maria Antonieta chegou ao extremo de ela ser acusada de incesto no Tribunal Revolucionário que a julgou antes da guilhotina. Uma das testemunhas insistia em contar detalhes sórdidos dessa acusação, para repúdio das pessoas que estavam no Tribunal. Então, Maria Antonieta inclinou-se na sua cadeira e gritou: “Apelo a todas as mães que estão aqui”.***

A era que se pretendia esclarecida fundamentava-se nos maiores boatos e absurdos.

_______________
* Cf. Les Confessions, livro VI, Launette, 1889, tome 1, p. 266.
** Cf. Simon Burrow, Blackmail, Scandal and Revolution: London’s French Libellistes, 1758-92, Manchester University Press, 2009.
*** Hilaire Belloc, Marie Antoinette, DoubleDay, NY, 1909, p. 509.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *