Simone Weil, na década de 40, escreveu suas notas pela supressão geral dos partidos políticos. Para ela, os partidos são apenas máquinas de paixões coletivas pelas quais as pessoas penhoram suas individualidades em nome de um grupo, de uma causa, de uma ideologia. Para Weil isso é desumanizar-se. O indivíduo abre mão de suas convicções e crenças, de sua razão e de seus próprios pensamentos para sustentar uma visão monolítica de mundo. Ainda pior: torna-se incapaz de censurar atos desonestos porque acaba oprimido por um sentimento de solidariedade. Portanto, assim como todos os grupos ideológicos que acabam suprimindo o individual no coletivo, a tendência essencial dos partidos políticos é totalitária. E esse totalitarismo se nutre de uma concepção idealizada da sociedade, que, por ser uma ficção, acaba se tornando ilimitada. Simone Weil lembra que toda a realidade implica um limite. Mas como a finalidade de um partido político é sempre muito vaga, a tendência é radicalizar as suas bandeiras e tornar-se o mais abrangente possível para ampliar a sua influência e o seu poder. Exaltam-se os ânimos e as disputas vão se tornando cada vez mais violentas.
Se uma só paixão coletiva arrebata todo um país, o país inteiro é unânime no crime. Se partilham duas, quatro, cinco ou dez paixões coletivas, dividem-se em vários bandos de criminosos. As paixões divergentes não se neutralizam, como no caso de uma poeira de paixões individuais absorvidas numa massa; existem em pequeno número, mas a força de cada uma é muito grande para que possam ser neutralizadas. A luta as exaspera. Elas se chocam num barulho realmente infernal que torna impossível ouvir, um segundo que seja, a voz da justiça e da verdade, que passa quase sempre despercebida.*
As críticas de Simone Weil são muito duras, é verdade. Mas suas palavras ecoam nessa época em que os partidos políticos se tornaram exatamente aquilo que ela os definia.
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* S. Weil. Note sur la suppression générale des partis politiques. Écrits de Londres et dernière lettres, Cap. IX [126]. Paris, Gallimard, 1957. Edição brasileira: ed. Ayné, col. Antagonista, 2016, tradução de Lucas Neves.
Muito interessante! Aguçou a curiosidade para conhecer a obra dela!
Absolutamente atual! Ela acertou em cheio no diagnóstico. Fica a pergunta: como seria sem os partidos políticos?