5 perguntas a Lobão

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Músico, escritor, polemista e best seller. Autor dos livros 50 Anos a Mil, Nova Fronteira, 2010, 400 págs.,  Manifesto do Nada na Terra do Nunca, Casa dos Livros, 2013, 248 págs., Em Busca do Rigor e da Misericórdia, Record, 2015, 224 págs, e o Guia Politicamente Incorreto dos Anos 80 Pelo RockLeYa, 2017, 496 págs.

Por Diogo Chiuso

1. No Guia Politicamente Incorreto você diz que, nos anos 80, era um outsider numa cultura decadente. As coisas parecem não ter mudado muito, não é? Quais as diferenças daquela época para o que vivemos agora?
Bem, nos anos 80 houve algo inédito nesse meio musical nos últimos 50 anos: um outro grupo, que não fosse o da MPB, tomou conta da produção musical brasileira. O momento atual é o limbo do presente contínuo criado em 1922, na semana de Arte Moderna, perpetuado pelas siglas ideológicas do Cinema Novo, Tropicália e MPB, décadas depois. Vivemos numa bolha higienizada de qualquer possibilidade de uma opinião diversa que vá contra esse rígido e imutável cabedal artístico ideológico.

2. Você reivindica um espírito de contestação, mas vemos aí a era dos “artistas a favor” de algum movimento, causa ou ideologia. Esta é a razão de vivermos talvez o momento artístico mais pobre da nossa história?
É mais simples e mais terrível: vivemos em um presente contínuo onde a única vertente que manda e vale culturalmente é o coronelato estabelecido no final dos anos 60. Se não for subserviente a Caetano, Chico, Gil e Roberto Carlos, você simplesmente não existe. Portanto, se é visível, palpável e mal cheirosa a deterioração cultural no Brasil, a responsabilidade desse fenômeno tem muito desses senhores por trás.

3. Por que o artista brasileiro ter essa mania de encarar a cultura como laboratório sociológico, com essa coisa pseudo-acadêmica na qual é preciso dar “senso crítico” ao público ao invés de um espetáculo?
Advém da educação obtusa e monomaníaca de vertente esquerdista em que sofremos uma constante lavagem cerebral e acabamos por agir de forma previsível e industrial como verdadeiros papagaios ontológicos.

4. Você poderia explicar melhor o que é a Síndrome de Dignidade Intelectual?
É um fenômeno que geralmente ocorre na entrada do ensino médio, quando a criatura passa por um severo achaque semiológico e seus símbolos, referenciais e predileções são sumariamente extirpados e substituídos por outros de natureza postiça, culturalista e ideológica. Isto transformou o ensino brasileiro numa verdadeira fábrica de manufaturar cretinos em série. Um exemplo prosaico? Um sujeito entra no ensino médio fã do Led Zeppelin e no transcorrer de duas semanas é tiete de Edu Lobo, Chico Buarque e Mercedes Souza desde criancinha. Isso é o que chamo de Síndrome de Dignidade Intelectual. O sujeito, para ser pertencido pelo seu novo grupo, para adquirir um suposto status intelectual, abdica de suas preferências estéticas (sempre abordadas com um vulgar colonialismo cultural) em prol das benesse de ser aceito e tolerado pela nova hierarquia social em que está submetido no colégio: os professores e seus asseclas.

5. Qual a sua opinião sobre a cultura de massa padronizante que atualmente domina os nossos meios de comunicação? Ela não ajuda na degradação cultural no momento em que transforma a cultura num mercado onde tudo é medido com o número de likes e views? Isso também não fortalece o discurso do pessoal da Síndrome de Dignidade Intelectual, além de passar uma ideia errada do que seja uma expressão artística autêntica?
O que creio ser mais traiçoeiro e daninho é justamente a suposta cultura de elite (a MPB) que subscreve, manipula, recomenda e lucra com a cultura de massa em geral.

O brasileiro médio tem uma mania dodói de achar que a MPB é o ‘tope’ da cultura musical brasileira. Consome avidamente os detritos musicais circunstantes para entre amigos arrotar seu refinado gosto ao citar como nota de rodapé alguns desses nomes acima citados do coronelato vigente. Em outras palavras: ouve Anitta e Pablo Vittar, mas jura ser fã de Chico Buarque. Talvez seja esse tipo de desonestidade intelectual, de cinismo e de subserviência tácita, um dos mais perversos cacoetes comportamentais do brasileiro mediano.

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Foto: divulgação (lobao.com.br).

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